Alguns poemas de: "O Corpo Remoto" (2009)

Descrição: poesia; 40 pág; formato livro de bolso

Pedidos pelo e-mail: nogueira.fga@gmail.com

ARREMESSAMENTO

Vou por onde corre o poema
Entre a sombra e a cena que me projeta
na senda sempiterna
A mão que me precipita no precipício
da entrelinha
se desdobra e dá o que me ancora
rente o prisma que cisma meu decesso
A margem que põe silêncio ao que peço
diz do berro que eu nego
na voz de meu esquecimento

Sou o que a poesia me transporta
em silêncio

***

AUTOMAÇÃO

As palavras me procuram
no acaso silencioso das mãos inermes
penduradas
como um
pêndulo
soturno
que

arquea o arcabouço
de um abismo infrene
sobre a margem
isenta
de olhos

***

A NOITE VEIO

A noite veio com seus cabelos negros
envolver-me a fronte dos meus
lábios

A noite veio revelando seus segredos
com seus suntuosos seios
e resvalando
seus luares dourados em meu peito

A noite veio com sua pele úmida
ressoar em meus flancos
o suor de suas brumas flamejantes

Sim, a noite veio com seu calor
com seus holofotes embriagados
na vertigem estrelar de seus
olhos

caindo
lentamente
sobre os meus

***

ODE A RENÉ MAGRITTE

Magritte deixou a porta de sua casa (a minha?)
aberta
e então obesas nuvens ousaram tomar
os corredores
rumo à cozinha

Enquanto isso o seu pássaro voa
camuflado
com os galhos do céu

Guizos acompanham a grande ave

E da janela espero passar
o temporal que chuvisca
as mil gotas

de
seu ego flamejante